quinta-feira, 24 de maio de 2012

Carta do 3º Ativo Nacional de Juventude da APS



Carta do 3º Ativo Nacional de Juventude da Ação Popular Socialista

          Nos dias 07 e 08 de maio realizamos o Ativo Nacional de Juventude da Ação Popular Socialista, com a presença de companheiras e companheiros da maioria dos estados onde temos intervenção. Em que pese o processo de formação de uma dissidência que rompeu com a corrente e não compareceu ao ativo, decidimos por realizar o ativo conforme estava programado. Nesse espaço debatemos um conjunto de questões essenciais para a construção da nossa corrente nesse setorial. Ao final elegemos uma coordenação em sintonia com essas tarefas e planejamos nossa intervenção para o próximo período.

        O período que vivemos é de resistência! Em todo o mundo, se abre um período conjuntural de resistência popular já perceptível, expresso no aumento do número e massividade das mobilizações e lutas. A juventude em todo o mundo vem questionando regimes, exigindo liberdades e o direito de decidir sobre suas próprias vidas, lutando contra as privatizações, em defesa da educação pública de qualidade, contra o arrocho de salários e o desemprego. Apesar do avanço do conservadorismo e estabilização política da hegemonia burguesa nos movimentando pra romper as amarras que nos prendem!
 
         Mais do que nunca está na ordem do dia disputar a juventude para a defesa de um programa democrático e popular de verdade. Essa tarefa será exitosa na medida em que atuarmos enquanto oposição programática e de esquerda aos Governos Municipais, Estaduais e Federal afirmando um programa anti-imperialista, anti- monopolista, anti-latifundiário, democrático radical, que dê conta de orientar a intervenção partidária e nos movimentos sociais, acumulando forças a partir de experiências políticas, organizativas por dentro e por fora da ordem, mas sempre contra a ordem.

         Precisamos resgatar a utopia, romper o cerco ideológico causado pelas críticas aos regimes burocráticos e do enraizamento do neoliberalismo e afirmar o Socialismo como alternativa à barbárie capitalista!

         Compreendemos que a juventude enquanto segmento social e a própria ideia sobre ela são produtos das nossas condições históricas e sociais, ou seja, estão vinculadas às estruturas do capital. O tempo de construção social do individuo e a solidificação de valores da juventude em nossa sociedade está associada a uma serie de direitos fundamentais, a exemplo da educação formal. No entanto, a lógica do lucro que rege o planeta, para se perpetuar, avança sobre os direitos do povo cotidianamente e restringe o seu acesso a uma pequena parcela da sociedade. Portanto a juventude é estratégica para a disputa de um projeto contra-hegemônico de sociedade e de melhorias na condição de vida do povo.

         A dinâmica do capital vem intensificando as disputas por territórios, nos espaços rurais e urbanos, por meio da especulação imobiliária, das grandes obras e megaeventos colocando essa questão no centro da luta de classes no Brasil. Além disso, as recentes reformas neoliberais modificaram o sistema educacional e o mercado de trabalho inserindo milhares de jovens no ensino superior e técnico mesmo que de forma precária. Cresceram nos últimos anos os postos de trabalho, mas não dão conta de absorver o contingente de mão de obra lançado no mercado. Desta maneira temos um cenário onde a frustração das expectativas da juventude ampliam-se.

         A este cenário se soma o processo de reorganização da esquerda e dos movimentos sociais impulsionados pelas transformações no mundo do trabalho, nas sociabilidades e fim dos regimes burocráticos e aprofundados após o transformismo do PT, dos principais partidos de esquerda e das entidades representativas do movimento. As saídas do PT e da CUT para construir outros instrumentos de luta são significativas nesse sentido.

         Apesar de toda essa movimentação, nossa intervenção (e das outras correntes do PSOL) no movimento estudantil ainda não conseguiu capitalizar esse sentimento e, mais que isso, a necessidade de aprofundar o debate a partir da base para pensar saídas que nos tirem da encruzilhada entre o governismo e o esquerdismo.

         A saída que precisamos apontar não deve partir do comodismo e da adaptação à realidade, nem de uma leitura mecânica e esquerdista de que o problema está na direção traidora e que nós os iluminados e iluminadas substituiremos essa direção (e o papel da massa), criaremos uma nova entidade e assim resolveremos a situação. Pelo contrário, só avançaremos e acumularemos para um projeto socialista se a política estiver no posto de comando e a dialética for o método, apontando efetivamente uma cultura política revolucionária onde possamos forjar desde já uma práxis emancipatória e portanto radicalmente ética e democrática. É desse movimento que forjaremos uma direção antenada com as tarefas que emergem da nova era que se abre na luta de classes em nível mundial.

         Mesmo não significando um completo abandono do trabalho de base e de construção das lutas no movimento, no último período a nossa orientação mais geral atendeu à lógica dos congressos da União Nacional dos Estudantes que exige uma mobilização pontual de dois em dois anos, legitimando assim a prática reducionista de atuação nas estruturas burocráticas da entidade. Essa linha política se relacionava ao que era implementado na corrente, em geral, e na juventude em particular. Isso se deu mesmo com a UNE se apresentando enquanto correia de transmissão das posições do governo e um instrumento de massa que não mais contribui para o avanço das mobilizações e lutas estudantis.

         Nossa atuação no movimento estudantil deve estar centrada no projeto popular de educação, que articula as pautas e demandas corporativas com vistas à formação de um bloco de poder popular, contra-hegemônico, baseado na articulação com os movimentos populares, forjando uma nova identidade para a juventude.

         Definimos esse projeto enquanto horizonte de lutas nas escolas e universidades, como elemento que justifica e direciona todas nossas ações, modificando assim o caráter do dialogo com os estudantes e dando um novo norte à reorganização do movimento estudantil combativo.

         Sem isso, não ampliaremos o diálogo com outros setores importantes da juventude, os que não se encontram nos espaços formais de educação e que não se identificam com os elementos do “mundo jovem”, mas sofrem cotidianamente o julgo opressor da fase neoliberal da sociedade capitalista.

         Nós, da APS, apontamos como umas das tarefas dos socialistas na atual quadra histórica fortalecer o PSOL na perspectiva de constituí-lo num partido socialista, democrático e de massas. A juventude terá um papel essencial nessa construção, por ser o setor onde nosso partido tem maior referência, tanto no movimento social, quanto nas intervenções eleitorais.

         A necessidade de construção dos setoriais e de outros espaços que possam fazer circular ideias no partido, formar a militância e construir uma cultura política que privilegie o debate e o convencimento em detrimento do atual modelo, onde os filiados só se encontram para fazer disputa interna, é também nossa tarefa.

         Por ser uma tarefa urgente e necessária do ponto de vista estratégico, mas também conjuntural, nós da juventude da APS, envidaremos esforços para construir o setorial de juventude do PSOL desde já a partir dos estados e municípios onde atuamos.

         Outra responsabilidade a ser assumida pela nossa militância jovem que tem como referência partidária o PSOL é o processo eleitoral de 2012. Nessas eleições Municipais, lançaremos candidaturas onde for possível e onde não for contribuiremos com candidaturas que abracem nossas pautas.

         Defenderemos também a constituição de comitês municipais de juventude que organizem as campanhas majoritárias em torno de eixos programáticos do setorial, contribuindo eleitoralmente, politicamente e organizativamente para o enraizamento e fortalecimento do partido em meio à juventude.

         Está na ordem do dia formar uma nova vanguarda política e social, em consonância com a tarefa de disputar a juventude para uma perspectiva contra-hegemônica, questionando o sistema capitalista a partir da nova realidade do mundo do trabalho, dos espaços educacionais e das lutas por território onde está inserida a maior parte da juventude brasileira.

         Entendemos que a relação entre vanguarda e massa se aprofunda a partir do momento em que compreendendo o papel essencial da vanguarda na luta de classes, nos entendemos todos como parte de um mesmo povo, com as mesmas aspirações, herdeiros do mesmo legado de resistência e lutas nesses mais de 500 anos desde a invasão européia na América.

Ousando Lutar, Venceremos!

Auditório da FENASPS, Brasília, 7 e 8 de maio de 2012

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